quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA, UM PRINCÍPIO DA EVOLUÇÃO DA LÍNGUA

Partimos do pensamento primário e norteador de que o fenômeno “variação lingüística” esteve presente em todo o momento da formação e estruturação de nossa língua, ao retornarmos à língua-mãe, o latim, percebemos que desde então, até os dias atuais, tivemos mudanças renovadoras da língua.

A lingüística atual revela que uma língua não é homogênia e deve ser entendida justamente pelo que caracteriza o homem – a diversidade, a possibilidade de mudanças.

É preciso compreender que tais mudanças, como se pensava no início, não se encerram somente no tempo, mas também se manifestam no espaço, nas camadas sociais e nas representações estilísticas.

De acordo com Celso Ferreira da Cunha (1992), ao traçarmos a linearidade histórica de nossa “língua brasileira”, notamos que essa provém da língua portuguesa, que por sua vez provém do latim, que se entronca na grande família das línguas indo-européias.

De início era o simples falar de um povo de cultura rústica, que vivia no centro da Península Itálica, mas a língua latina veio, com o tempo, a desempenhar extraordinário papel na história da civilização ocidental.

Os romanos, em contato com outras terras, outras gentes e outras civilizações, ensinavam, mas também aprendiam. E aprenderam muito com outros povos. Desde o século III a.C., pois, sob a benéfica influência grega, o latim escrito com intenções artísticas foi sendo progressivamente apurado até atingir, no século I a.C., a alta perfeição da prosa de Cícero e César, ou da poesia de Horácio e Virgílio. Em conseqüência, acentuou-se com o tempo a separação entre essa língua literária, praticada por uma pequena elite, e o latim corrente, a língua usada no colóquio diário pelos mais variados grupos sociais da Itália e das províncias.

Tal diferença era sentida pelos romanos, que opunham ao conservador latim literário, ou clássico, o inovador latim vulgar, língua falada por todas as camadas da população e em todos os períodos da latinidade.

Foi esse matizado latim vulgar que os soldados, colonos e funcionários romanos levaram para as regiões conquistadas e, sob o influxo de múltiplos fatores, diversificou-se com o tempo. Por volta do século V, os falares regionais já estariam mais próximos dos idiomas românicos do que do próprio latim.

Após a fase de transição, surgem, então, durante o século XIII, os primeiros documentos que chegaram até nós integralmente redigidos em galego-português.

Com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, os portugueses ampliaram enormemente o império de sua língua. No Brasil, a língua portuguesa apresenta uma relevante diferenciação com o português de Portugal; há, evidentemente, diferenças sintáticas, semânticas e fonéticas.

Diferenças sintáticas – colocação diferente dos pronomes oblíquos; uso da preposição em com verbos de movimento: chegar na, ir na...; emprego de ter em lugar de haver...

Diferenças semânticas – azular, em Portugal significa tornar azul; no Brasil, fugir. Cangaço, em Portugal significa resíduo de uvas; no Brasil, quadrilha.Moço, em Portugal,criado; no Brasil, apenas jovem.

Diferenças fonéticas – na fonologia, as diferenças são mais profundas, assinalando-se não só na emissão das vogais, como na das consoantes: minimo, mintira, (m); fonti, poti (t); quêxo, bêjo (ai)¹ e o acréscimo de e, após r e l,em Portugal (sole)...

Além dos fatores sociais, geográficos e históricos, outros mais serviram para distanciar o nosso português do português de Portugal.

Em primeiro lugar, a língua portuguesa encontrou rival no tupi, o qual, tornado língua geral, a ultrapassou, até o século XVIII, segundo Teodoro Sampaio (1954). Os padres preocupados com a catequese, falavam, escreviam a sua gramática e organizavam dicionários em tupi. Os bandeirantes também contribuíram batizando os acidentes geográficos e algumas localidades com vocábulos dessa procedência. O português sobressaiu, e tornou-se idioma nacional, o que não impediu que restassem vestígios do tupi em nosso falar. Assim, temos de providência indígena muitos nomes de lugares, utensílios, alimentos, flora e fauna, como: Manhumirim, pororoca, Iracema, tatu, abacaxi, etc.

Outro elemento que entrou em contato com o português do Brasil foi o africano. A necessidade de braços que trabalhassem a terra, trouxe o negro, que agregou ao nosso falar seu vocabulário e influiu na pronúncia. De providência africana temos: macumba, cachaça, moleque, quindim, jiló, cochilo, tanga, etc.

(1) As letras entre parênteses representam, aproximadamente, a pronúncia portuguesa da parte destacada.

Os colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Língua Portuguesa, essa foi sendo enriquecida com vocábulos e locuções novas; adquirimos outra pronúncia. Além de recebermos influência das línguas indígenas e africanas, também estão presentes em nossa língua alguns vocábulos do oriente e de outras línguas européias.

De providência árabe temos: álcool, algarismo, café, oxalá, alfaiate, etc. De origem francesa temos: abajur, champanhe, manchete, omelete,chique,garage, etc. De origem inglesa temos: clube, xampu, estresse, futebol, gol, short, etc.

Após analisarmos o desenvolvimento linear de nosso português, estamos certos de que a evolução da língua vem desde sempre, e tudo indica que vai continuar. E mais ainda, a evolução perpassa pela diversidade que é a transitoriedade da língua.

Ocorreu com o latim, que se estruturou em duas vertentes durante seu processo evolutivo: o latim clássico, falado por uma minoria de grandes escritores e o latim vulgar, que pela extensa população usuária se difundiu rapidamente. E o mesmo com a Língua Portuguesa, em que se distanciaram os falares do Brasil com o de Portugal.

E hoje, no Brasil, é irreal o nivelamento da língua devido a muitos fatores como: social, histórico, geográfico e cultural. Portanto, necessitamos aceitar as variações e estudar o que as provoca para entendermos o processo evolutivo lingüístico.

Ao constatarmos a renovação da língua, muita vezes, mesmo sabendo que é fato incontestável seu dinamismo, ainda assim percebemos dificuldades de coexistência dos múltiplos falares; recentemente passamos a assumir que o preconceito lingüístico é real e se manifesta toda vez que temos o embate e a identificação das diferenças lingüísticas por diferentes grupos.

O latim se modificou para se adequar à extensão do território dominado pelos romanos. E o português que chegou a nossas terras não permaneceu o mesmo por diversas influências, como já citamos.

Dentro da unidade territorial brasileira se revelam muitos falares que se justificam e condicionam para se adequar a realidade sócio-cultural de nosso país. Foi de evolução para evolução que chegamos até o exato momento de nosso falar; caso contrário, estaríamos falando latim.

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